Na noite do dia 31 de março de 2005, quando se completavam 41 anos do golpe militar de 1964, policiais militares iniciaram uma série de assassinatos em Nova Iguaçu e só terminaram a ação em Queimados. No total, 29 pessoas morreram e somente uma conseguiu sobreviver. Foi a maior matança realizada por agentes do Estado até hoje no Rio de Janeiro de uma só vez, teve intensa repercussão nacional e internacional, e ficou conhecida como a Chacina da Baixada.
A mobilização da sociedade a partir desse massacre, principalmente dos familiares das vítimas e organizações defensoras dos direitos humanos, obrigou o Estado a fazer o que geralmente não acontece quando se trata de crimes cometidos por grupos de extermínio: investigar e chegar a alguns dos culpados. Dos 11 policiais diretamente envolvidos, apenas 5 foram julgados, 4 foram condenados e 1 foi absolvido, e mais um, beneficiado pela chamada “delação premiada”, foi assassinado na prisão por seus ex-comparsas.
Os outros não foram julgados, e nenhum mandante ou chefe do grupo de extermínio do qual os condenados faziam parte foram investigados, embora tenha sido formada, logo após a chacina, uma suposta comissão de nível federal que deveria investigar a fundo os grupos de extermínio atuantes na Baixada Fluminense.
Em conseqüência, embora tenha sido uma vitória da mobilização popular os julgamentos e condenações, o quadro de violência, matanças e impunidade nessa periferia do Grande Rio não se alterou significativamente nestes seis anos. De certa forma se agravou, pois enquanto a propaganda e as ilusões em relação às Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) alimentam a idéia de que há uma nova realidade de segurança pública no Rio, a extrema violência que prossegue em regiões periféricas como a Baixada, a Zona Oeste do município do Rio e São Gonçalo/Itaboraí, ficam esquecidas pela grande imprensa e por grande parte da chamada “opinião pública”.
Deve-se lembrar, aliás, que é para essa periferia pobre, carente dos serviços públicos mais básicos, e esquecida pela mídia, que os atuais projetos de remoção de comunidades, estimulados pela especulação imobiliária desencadeada pela próximo realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, querem levar ainda mais pessoas pobres. Pretende-se, dessa maneira, aprofundar a construção de uma metrópole segregada e dividida, onde a maior parte da população (a parte pobre) viveria em regiões distantes, abandonadas e “invisíveis”.
É por isso que os familiares das vítimas da Chacina da Baixada, e movimentos e organizações defensoras dos direitos humanos, fazem questão de sempre lembrar o 31 de Março e a Baixada como uma data e um lugar que nunca podem ser esquecidos. Neste ano, como em 2010, os seis anos da chacina serão lembrados por uma caminhada que vai refazer o trajeto dos assassinos pelas ruas de Nova Iguaçu, naquela noite horripilante. A concentração será na Via Dutra, na altura da Besouro Veículos, às 15h da quinta-feira, 31/03/2011. À noite haverá uma missa em lembrança das vítimas.
Mais informações com Luciene, mãe de Rafael, uma das vítimas da Chacina, e militante pelos direitos humanos, no telefone 8640-6823.
Comissão de Comunicação da Rede contra a Violência.
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