domingo, 26 de agosto de 2012

missa na Igreja da Candelaria

Missa da Candelaria

vigila da candelaria

Medo e sonho de justiça de uma filha de Acari O irmão é um dos 11 desaparecidos de 1990, e a mãe foi morta em 93. Agora os Cavalos Corredores, suspeitos do crime, serão julgados. Rosângela vai depor como testemunha POR ADRIANA CRUZ Rio - ‘Tenho medo de morrer, mas há uma pequena esperança de justiça”, desabafa Rosângela da Silva, 45 anos. Ela se refere à audiência no próximo dia 8 de outubro, às 13h15, no 1º Tribunal do Júri, sobre o assassinato da mãe, Edméia da Silva Euzébio, ocorrido em 1993 — há 19 anos. Uma das nove testemunhas, Rosângela estará frente a frente com os oito acusados de envolvimento no crime, dos quais cinco são PMs. Um deles é o coronel reformado Emir Larangeira. Quando foi morta, Edméia era símbolo da Anistia Internacional na luta em defesa dos direitos humanos e liderava o grupo conhecido como Mães de Acari, que nunca encontrou os corpos de 11 jovens sequestrados em 1990. Rosângela estará frente a frente com os oito acusados de envolvimento no crime | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia Ela e Sheila Conceição foram emboscadas e mortas no estacionamento do metrô da Praça 11, em 15 de janeiro de 1993, depois de deixar o presídio Hélio Gomes, no Estácio. “A Sheila morreu no meu lugar. Sempre andava com a minha mãe, eu era o alvo”, revela Rosângela. O caso teve reviravolta no ano passado, quando as promotoras Ludmilla de Carvalho e Mariana Ruiz, do Ministério Público (MP), denunciaram à Justiça, além de Larangeira, os PMs Eduardo Creazola, o Rambo, Arlindo Maginário Filho, Adilson Saraiva Hora, o Tula, e Irapuã Ferreira; o ex-PM Pedro Flávio Costa; o agente penitenciário Washington Luiz Ferreira dos Santos e o servidor municipal Luiz Cláudio de Souza, o Mamãe ou Badi. Edméia teria sido morta por ter conseguido novas informações que localizariam os adolescentes de Acari sequestrados em sítio de Magé, na Baixada Fluminense. Segundo a denúncia do MP, os acusados integravam o grupo Cavalos Corredores, que agia sob as ordens de Larangeira, principalmente na década de 90, quando ele comandou o 9º BPM (Rocha Miranda). Eles foram suspeitos de envolvimento em extorsões e desaparecimento dos jovens de Acari e na Chacina de Vigário Geral, quando 21 foram mortos em 1993. Crime planejado em gabinete político A reunião para matar Edméia teria sido feita no gabinete do então deputado estadual Emir Larangeira, na Assembleia Legislativa (Alerj). A revelação foi feita por Sueli Vieira, que trabalhava com o parlamentar e foi localizada pelo coronel PM Walmir Brum. “Ela disse que ouviu Larangeira mandar o grupo para a Praça 11, onde o crime foi cometido”, disse o oficial, que também investigou o desaparecimento dos 11 jovens de Acari e a Chacina de Vigário Geral. Outra testemunha é Ivan Custódio, ex-X-9. O caso está na fase de audiência. Caberá à juíza Ludmilla Lins da Silva decidir se os acusados vão a júri popular. Advogado de Larangeira, Ubiratan Guedes desqualifica as principais testemunhas. “Elas não têm credibilidade alguma. Não há provas de absolutamente nada. A Sueli tem problemas de equilíbrio mental e o Ivan Custódio já deu causa há mais de 30 ações na Justiça. Como advogado consegui trancar 11 delas”, analisou Guedes. Medo de morrer foi passado da mãe para a filha O medo de morrer que atormenta Rosângela fazia parte da rotina da sua mãe, Edméia. “Ela vivia para descobrir o que aconteceu com o meu irmão, Luiz Henrique. Dizia que poderia morrer, mas que nunca pararia. E morreu”, lamenta. Uma das Mães de Acari mais atuantes, Edméia revelou ao jornalista Carlos Nobre seu temor. Os relatos foram publicados no livro ‘Mães de Acari, uma história de luta contra a impunidade’, publicado em 1994. Em um dos trechos, ela diz que temia ser morta, principalmente por Larangeira. Em 15 de janeiro de 1993, Edméia foi de manhã a Nova Iguaçu conversar com advogado. À tarde, visitou um preso no Presídio Hélio Gomes — que ficava na Rua Frei Caneca e foi implodido em 2010 — na esperança de conseguir novas informações sobre o paradeiro de Luiz Henrique. “Nunca vou saber o que a minha mãe descobriu”, suspira Rosângela. Ao deixar o presídio, Edméia encontrou Sheila Conceição, que também estivera na unidade. No estacionamento do metrô da Praça 11, Edméia foi atingida por vários tiros. Sheila tentou escapar em direção à Avenida Presidente Vargas, mas foi ferida. Os criminosos fugiram em uma Parati e uma Kombi. Acusado do crime, Mário Luís Andrade, o Mário Maluco, foi absolvido seis meses depois. FIM DAS INVESTIGAÇÕES APÓS 20 ANOS Unidas pela dor, as Mães de Acari lutaram 20 anos em busca dos 11 jovens desaparecidos. Ano passado, as investigações sobre o sequestro foram encerradas. Até hoje, os corpos e os culpados não apareceram. “Sou órfão do Estado. A sensação é de impotência, porque estava longe da minha filha, e incompetência, por não encontrar vestígio do corpo dela”, avalia Marilene Lima, 61, mãe de Rosana de Souza Santos, que tinha 19 anos à época do crime. Em 2011, o estado expediu a certidão de morte presumida (sem o corpo) de uma das vítimas. A família de Viviane Rocha da Silva, morta aos 14 anos, foi a primeira a recebê-la. “Nunca teremos o direito de enterrar nossos filhos. Vivo em um país onde a impunidade é gritante e os bandidos vestem-se de mocinhos”, protesta Marilene. O desaparecimento dos jovens de Acari, a Chacina de Vigário Geral e a morte de Edméia se entrelaçam em suspeitas contra grupo de policiais batizado de Cavalos Corredores, que atuou nos anos 90 no batalhão de Rocha Miranda. No caso da Chacina de Vigário Geral, 10 PMs foram absolvidos por falta de provas. Apontado como chefe do bando, o coronel reformado Emir Larangeira foi denunciado pelo então procurador-geral de Justiça, Antônio Carlos Biscaia, em 1994, por formação de quadrilha. Na denúncia, Biscaia acusou Larangeira, então deputado estadual, de organizar os Cavalos Corredores. O grupo disseminava o terror nas comunidades carentes e usava a máquina estatal e autoridade para achacar criminosos, principalmente traficantes. Muitas vezes, se aliavam a bandidos. Larangeira foi novamente absolvido, dessa vez pelos desembargadores do Órgão Especial do Tribunal de Justiça, em 1998.