quarta-feira, 27 de abril de 2011

secretário-geral da Anistia Internacional

Fabíola Ortiz
Especial para o UOL Notícias
No Rio de Janeiro

Em visita ao Brasil durante esta semana, o secretário-geral da Anistia Internacional (AI), Salil Shetty, reuniu-se com moradores do Rio de Janeiro nesta segunda-feira (25) para ouvir relatos de violação de direitos humanos cometidos por policiais.

A AI informou que vai levantar as denúncias das famílias para pressionar as autoridades e a presidente Dilma Rousseff a tomar providências na investigação de tais crimes. Em um de seus primeiros compromissos, Shetty encontrou-se com parentes de vítimas e sobreviventes de abusos policiais na favela Cidade Alta, onde vivem cerca de 10 mil pessoas, em Cordovil, no subúrbio do Rio de Janeiro.

Parentes como Deise Silva Carvalho, 40, denunciaram casos de execução, a falta de apoio do poder público, a lentidão da Justiça em julgar crimes cometidos por policiais e ameaças. Carvalho é mãe de Andreu, que em 2007, aos 17 anos, foi preso por suspeita de roubo. Seu filho teria sido torturado e espancado até a morte em janeiro de 2008. “Colocaram um saco plástico na cabeça dele, sabão em pó na boca e colocaram a cabeça dele no vaso sanitário com detritos. Soube que os policiais haviam sido exonerados, mas é mentira, eles continuam trabalhando normalmente. É covardia o que meu filho sofreu”, afirma.

No dia 18 de setembro do ano passado, uma ação com cerca de 30 policiais na Cidade Alta vitimou Júlio Cesar Menezes Coelho, 21. Ele foi atingido por uma bala no abdômen e chegou morto ao hospital. “Ele poderia ter sobrevivido, mas chegou morto no hospital depois de uma hora. Ninguém tem direito de tirar a vida de ninguém. A gente quer justiça”, disse Joelma, tia do jovem.

Já Luciana Nascimento, mulher de Alessandro de Oliveira do Nascimento, 26, relata que no dia 11 de junho de 2010 o marido, morador da favela Nova Holanda –uma das 13 comunidades do Complexo da Maré–, trabalhava numa barbeira dentro da comunidade quando foi atingido por um tiro na cabeça durante uma operação policial. Mesmo tendo sobrevivido após três meses na UTI, Alessandro vive hoje com sequelas. “Ele mal consegue andar, não fala e está impossibilitado de trabalhar”, disse Luciana ao UOL Notícias. “A operação da polícia atinge quem não tem nada a ver, deixa marcas e não dá suporte nenhum. A gente conta com a ajuda de ONGs e amigos.”

Brasil é campeão de violações policiais na América Latina
Segundo Maurício Campos dos Santos, representante da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência que atua em parceria com a Anistia Internacional, o Brasil é campeão de violações policiais da América Latina.

“A mentalidade da população é ainda preconceituosa que considera o morador de favela como um subcidadão. É preciso criar um outro tipo de relacionamento entre polícia e comunidade a começar pelo combate à impunidade e à violação policial”, defende.

A Anistia Internacional, que completa este ano cinco décadas, anunciou que irá abrir nos próximos meses um escritório no Brasil e que vai acompanhar de perto as denúncias de violações de direitos humanos.

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