quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Cine Encontro - Festival do Rio


"LUTO COMO MÃE": TALENTO EM TRANSFORMAR A DOR EM LUTA


O longa-metragem "Luto Como Mãe", do diretor e presidente do Cinema Nosso Luis Carlos Nascimento, teve sua estreia no Festival do Rio no dia 29 de setembro, concorrendo ao Prêmio de Melhor Documentário na Mostra Première Brasil, e recebendo um belo público no Cine Odeon que o aplaudiu de pé. No dia 1º de outubro, o público pôde assistir à segunda sessão do filme no Odeon, e ainda debater com a equipe no Cine Encontro, que ocorreu no Pavilhão do Festival do Rio, que se instalou no bairro da Saúde, Zona Portuária do Rio. 

Na mesa do Cine Encontro, estavam a batalhadora "mãe de Acari", Marilene Lima, que integra o elenco do filme, o desembargador Ciro Darlan, o diretor do filme, Luis Carlos Nascimento, e a representante da ONG Justiça Global, Sandra Carvalho. Como mediador, o coordenador da ONG Crescer e Viver, Júlio Perin.

"Luto Como Mãe" mostra o dia-a-dia de luta de mães batalhadoras que clamam por justiça. A partir de câmeras manuseadas por elas próprias, e também dirigidas por Luis Nascimento, é retratada a busca por soluções dos casos das Mães de Acari, da Chacina da Via Show e da Chacina da Baixada. 

Clique aqui para conferir o site oficial do documentário.
http://www.lutocomomae.com

Para Marilene, que abriu o debate do Cine Encontro, o maior mérito do filme foi transformar a dor em luta. "Somente quando eu vi as imagens que percebi a importância das falas, da denúncia, das queixas de mães, que não têm preço." 

Sandra Carvalho, da Justiça Global, enfatizou a importância das mães como protagonistas na busca por justiça. "Às vezes não temos mulheres em cargos de liderança, mas a base da luta pelos Direitos Sociais é feito por elas."

Para o desembargador Ciro Darlan, "Luto Como Mãe" é grandioso porque nos traz a reflexão de amor total e prioridade absoluta a todas as crianças: "Essa é a única forma de transformar esse país numa nação mais feliz. Nós não devemos arrefecer, este filme é uma bandeira que nos anima a continuar."

O diretor do filme, Luis Carlos Nascimento, também ressaltou o protagonismo das mulheres no filme, e destacou que o objetivo das filmagens não era tornar evidente as dores, mas a força na luta: "Me impressionou muito quando, nas primeiras imagens mostradas, elas perguntaram onde estavam seus filhos, e eu comecei a entender que estávamos no caminho certo, pois a proposta era justamente não ter os filhos, não ter a exploração dessa dor, não ter corpos, não ter esse glamour da violência, mas sim ter essas mulheres que, como na Grécia Antiga, sobreporam-se à figura desse Estado machista, pseudo-democrático
."

Pedro Soares

Cine Encontro - Festival do Rio - Links no Youtube

Cine Encontro - "Luto Como Mãe" - 1
Debate sobre o filme "Luto Como Mãe", do diretor Luis Carlos Nascimento, ocorrido no dia 01/10/09 durante o Cine Encontro, do Festival do Rio 2009. 


http://www.youtube.com/watch?v=D6Nu417cn08

Cine Encontro - "Luto Como Mãe" - 2
Fala da "mãe de Acari", Marilene Lima, durante debate sobre o filme "Luto Como Mãe", do diretor Luis Carlos Nascimento, ocorrido no dia 01/10/09 durante o Cine Encontro, do Fes
tival.

http://www.youtube.com/watch?v=6vPKeSA4UU4

Cine Encontro - "Luto Como Mãe" - 3
Fala da representante da ONG Justiça Global, Sandra Carvalho, durante debate sobre o filme "Luto Como Mãe", do diretor Luis Carlos Nascimento, ocorrido no dia 01/10/09 durante o Cine Encontro, do Festival do Rio 2009. 

http://www.youtube.com/watch?v=EeAgeGstc4U

Cine Encontro - "Luto Como Mãe" - 4
Fala de Luis Carlos Nascimento, durante debate sobre seu filme "Luto Como Mãe", ocorrido no dia 01/10/09 durante o Cine Encontro, do Festival do Rio 2009. 


http://www.youtube.com/watch?v=1ImefGfpKGg

Cine Encontro - "Luto Como Mãe" - 5
Fala do desembargador Ciro Darlan, durante debate sobre o filme "Luto Como Mãe", do diretor Luis Carlos Nascimento, ocorrido no dia 01/10/09 durante o Cine Encontro, do Festival do Rio 2009.

http://www.youtube.com/watch?v=JYf3lg9iG8c

Notícias - O globo

Ontem no Cine Odeon passou na Mostra competitiva de longas documentais o filme “Luto por Mãe”de Luiz Carlos Nascimento. Luiz já e bastante conhecido pelos seu trabalho no grupo CINEMA NOSSO e agora estréia em longas com esse emocionante documentário. 



Ontem, assisti no Festival do Rio o documentário “Luto por Mãe” que foca as mães de filhos que foram mortos em ações violentas tendo o envolvimento de policiais. O foco em questão são três tragédias que ganharam as manchetes do Brasil e do mundo- O assassinato de onze jovens que moravam no Acari, cujo as mães ficaram conhecidas como mães de Acarai, O assassinato de quatro amigos na Via Show e por últimos algumas mães de jovens que foram mortos na chacina que ficou conhecida nos jornais, como a chacina da baixada. 

Não é novidade nenhuma mostrar em documentários o sofrimento de mães que perderam seus filhos de maneiras violentas. Porem o diretor Luis Nascimento, em seu primeiro longa, partiu para um lado interessante, claro que a dor de uma mãe e de uma família foi focada, porem ele preferiu apenas mostrar de maneira a não incomodar muito o cotidiano dessas famílias, com uma câmera que simplesmente estava ali e não atrapalhava ninguém, ele acompanhou essas mulheres de coragem em suas idas e vindas em fóruns e em audiências que eram sem motivo algum remarcada para outro dia. Um dos criminosos teve seu julgamento adiado por mais de uma dezena de vezes. 

Alem de mostrar o sofrimento de mães e familiares, pois tem um determinado momento que a mãe de um rapaz que foi assassinado sem nenhum motivo aparente na chacina da baixada diz que quando morre um membro da família, um cidadão trabalhador e com uma ficha limpa, muda a vida de toda uma família, não só da mãe, mas de irmãos, sobrinhos e demais familiares. Mostra também uma policia em que o cidadão comum, o povão, não pode confiar. A chacina da baixada, por exemplo, durante o filme um delegado explica que a causa de uma chacina cometida por policiais e que deixou vinte e nove mortos, vinte e nove repetindo, nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados, foi o fato de um novo comandante ter entrado no batalhão de Duque de Caxias e começar a lutar contra os policiais corruptos. O primeiro ato dos criminosos foi jogar uma cabeça dentro do batalhão e depois resolveram matar vinte e nove pessoas inocentes que eles encontraram na rua. 

O documentário mostra como um ser humano pode mudar. Todas as mães eram pessoas simples, donas de casas e trabalhadoras, que simplesmente criaram seus filhos da melhor maneira possível e de repente esses filhos lhes são tirados por quem deveria lhes dar proteção, elas mudam e passam a fazer de tudo para colocar atrás das grades esses policiais criminosos. Elas deixam tudo de lado e passam a dar plantão em fóruns, em delegacias, organizam passeatas e fazem de tudo para que a morte de seus filhos não caia no esquecimento. Tem o caso desesperador de uma mãe que teve de fazer a perícia do local onde o filho foi assassinado, pois a policia civil não tinha contingente para dar apoio aos peritos, pois o local era tido como muito perigoso. 

Emocionei-me muito com dois depoimentos, os dois últimos que fecham o filme, o de uma mãe, que após a audiência onde um dos policiais que participou do assassinato de seu filho, é condenado a mais de quinhentos anos de cadeia. Ela esta no corredor do fórum, olha para a câmera e diz que se sente vencedora. E de uma outra mãe que simplesmente diz que desistiu de lutar, pois não tem mais forças. É uma despedida da vida. Depois que terminou o filme, o diretor me contou que ela faleceu vinte e quatro horas depois de gravar a entrevista, sem ver os assassinos de seu filho na cadeia. 

Um grande filme, que com certeza, terá uma pequena distribuição, e entrara em diversos festivais. Parabéns Luis.    


Julio Pecly

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